sexta-feira, 29 de abril de 2016

A PONTE DE IGAPÓ - HÁ CEM ANOS

Walter Medeiros
Natal de cem anos atrás experimentava uma evolução lenta, mas ampliava-se através de certa estruturação proporcionada pelas suas vias de transporte terrestre, fluvial e ferroviário. Sua população de menos de 30 mil habitantes movimentava-se no dia a dia da Ribeira, Cidade Alta e outros poucos bairros. Ali localizavam-se as principais atividades de manufatura, indústria e comércio.
Rostand Medeiros, em trabalho de pesquisa sobre propaganda antiga em Natal registra que há pouco mais de cem anos a cidade tinha uma vida tranquila, onde o povo ainda andava no lombo de animais e havia vários jornais para dar conta de tudo. Inclusive da chegada de navios – a mais importante forma de locomoção para longe da terra potiguar: vapores de cargas e passageiros. Quem ia para o interior, o jeito era o trem, ou em lombo de animais.
Para melhorar o acesso entre Natal e o interior do estado, bem como ligar o lado sul da cidade à zona norte, foi construída a ponte de ferro de Igapó. A obra foi inaugurada em 20 de abril de 1916, e constituía-se de uma via para automóveis e linha férrea. Totalizava 550 metros, com nove vãos de 50 metros e um de 70.
Meu primeiro contato com a ponte de Igapó se deu em 1962, quando, aos nove anos, voltei para Natal no trem que vinha de Arco-Verde, Pernambuco, depois de chegar até lá num caminhão que nos levara de Mata Grande, alto sertão de Alagoas, cidade onde moramos durante seis anos. Tudo era novidade para mim.
Para passar pela ponte de Igapó, o trem gozava de total prioridade. Assim, passamos direto e seguimos pelas Quintas, Guarita, rua Ocidental, Paço da Pátria e estação central da Ribeira. Ali embarcamos num buíque preto que nos levou até a rua Campo Santo, no Alecrim, onde lembro bem da recepção calorosa e amável dos meus avós, Francisco Bezerra e Constância Medeiros. O primeiro agrado da minha irmã foi me dar um poli, que até então eu conhecia como picolé.
Tempos depois fiz a primeira passagem de carro pela ponte de Igapó, quando então entendi o método utilizado para alternar a passagem dos veículos e o trem. Cada margem da ponte tinha um funcionário com bandeiras vermelha e verde, usadas para autorizar a passagem, o mesmo tão utilizado em obras de rodovias quando a passagem fica limitada a uma só via.
Oito anos depois daquela viagem de trem, lá vamos nós para a ponte de Igapó. Natal inteira na rua, seguido a pé para ver o monsenhor Walfredo Gurgel inaugurar a primeira ponte de concreto, que mudou completamente a situação, facilitando o tráfego entre as margens do rio Potengi. Mas a cidade continuava crescendo cada vez mais acentuadamente. E em 1989 lá estávamos novamente na ponte de Igapó, daquela vez para assistir o governador Geraldo Melo entregar a terceira ponte paralela sobre o rio Potengi, a nova ponte de Igapó.

Uma, outra, ou todas aquelas pontes me marcaram tanto, que nas minhas idas e vindas para a casa da minha mãe, no conjunto Panatis e atividades comunitárias ou visitas aos amigos, resolvi criar um jornal para noticiar as coisas da Zona Norte. Nome do periódico mensal: “A Ponte”.
Muitas histórias importantes e belas foram contadas nas páginas daquele jornal, que circulou por cerca de dois anos, com patrocínio de comerciantes e prestadores de serviços locais, e distribuição gratuita. Até que numa crise de falta de papel jornal a gráfica do Diário de Natal não podia mais executar a impressão. Tivemos de buscar uma alternativa. Os preços eram astronômicos e impraticáveis. Nada mais podia ser feito, e assim “A Ponte” encerrou sua trajetória.

Neste momento em que completa cem anos de inauguração, a ponte de ferro de Igapó, testemunha de todas essas histórias, merece uma atenção especial da sociedade natalense e do poder público. Sabemos da destinação que foi dada à sua ferragem, mas sua estrutura é algo que deveria tornar-se um símbolo mais forte de Natal. É hora, portanto, de incorporar aquele ponto à vocação turística e histórica de Natal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário